Calendoscopiando a Alma!

"todo poema é uma aventura planificada" (C.L.)


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sábado, 21 de abril de 2012

Vivendo no Concreto - São Paulo em primeiras impressões.




  Caminhando pelas ruas da cidade cinza vou me deixando envolver pela paisagem ao meu redor.
Tudo aqui é realidade concreta. A cada dia que vejo a luta nas mentes e nos corpos errantes percebo que, como uma formiga  perdida em um copo d'água, luta-se em vão.  A minha verdade, a sua verdade, no fundo não existem. É tudo invenção. Vivemos em uma sociedade líquida, de amores líquidos e raízes rasas. Não há mais referencial. Não há mais uma causa! A causa sou eu! O meu eu sempre fala mais alto! Perdidos seguimos,  achando que, buscando a nós mesmos, chegaremos a algum lugar de sanidade e lucidez.... Seria mesmo? doce ilusão. O que nos resta são as migalhas dos poderosos, ou a inércia epistemológica dos intelectuais acadêmicos. Nem aqueles que se formam pela população buscam ajudar ao irmão.
   São Paulo, o lugar onde o amor é artigo raro, achado em alguma loja perdida da 25 de março. Onde no fundo todos tem o rosto de um chinês. E necessitam se misturar a multidão dos iguais! Mas por dentro não se pode negar o vazio...
   E uma hora, cedo ou tarde, virá a tona a necessidade do destaque, nem que seja do recado deixado num Post It da geladeira. Eureka! O bilhete amarelo na sala branca revela então a capacidade preservar o  lugar de partida desta bosta. Onde era mesmo? ah! O caminho!
    Qual seria então esta verdade revelada em garoas de fim de tarde e em sorrisos sóbrios de moças contidas? Vai saber! Quem se destoa é sempre um bobo da corte, é sempre alguém que precisa imediatamente ser marginalizado.
     Aqui também me espanta o esforço das pessoas em manterem-se embreagadas. Embreagas de drogas, prazeres, desejos narcisistas e momentos frívolos... Estes comumente chamados de "brisas". É! realmente aqui não há aquela quentura da Bahia. Ou aquelas tardes de poesia de Salvador. A poesia aqui é dura...
      Mas... Pode se achar beleza no concreto? Até que sim. Se flores são  capazes de romper asfaltos e serem, ainda assim, flores, pode-se ser "eu" aqui. Pode-se manter a personalidade e, de alguma forma, buscar subverter a seção de achados e perdidos da Av. Paulista. Ai então, posso me submeter ao fantástico mundo da concretude amiga de braços tão cálidos! Esta que insiste em tentar me moldar segundo a sua vontade! Venha!
       Calma! Espere! Desta forma não seria eu. Ou seria? talvez fosse o marasmo da correria que me domina e me faz achar que isso aqui  é mesmo o que me resume. Não! Não! Nunca me renderei a estes braços bandidos! Posso até compreender a sua dureza, mas em essência não me contamino. Mesmo que para isso perca um braço ou entre no paraíso sem a visão. Não poderei render os meus sentidos e o meu coração a frieza do coração de muitos que já se encontram a espera de um  carrasco para sepultá-los.   
      Ainda, em minha ingênuidade baiana, e fantasiosa receptividade nordestina, compreendo que não posso endurecer a essência do meu "eu" perante a boca sem vida deste lugar tão árido! Não! aprendi desde  menina a ver a beleza do feio! E a não me deixar levar pelas primeiras impressões.
      As vezes também acho que pela minha intensidade em viver cada momento devo mesmo estar me exagerando....  Sempre ouvi que aqui tem tantas oportunidades.... E eu cuspindo no prato que desejava a anos me lambuzar!
Pronto! É sempre assim! Agente come o que quer e depois se pergunta: Gostou? Acho que sim... Sobre alguns aspectos, ainda em análise, sim! Então por  que vomitar na boca que um dia te beijou? Ah! Esses sentimentos indecisos quer possuo... Deve ser da minha pouca experiência em deixar.
     Preciso confessar algo que vivo, uma dificuldade:  É que é tarefa árdua para mim ter que deixar algo. Ter que me separar do que achava estar feito e, então, ter que começar de novo é muito doloroso para mim. Gosto de coisas mais sólidas as vezes. Gosto de chegar em casa e sentir os mesmos cheiros, os mesmos espaços os mesmos sentidos.  Não sei, me sinto desprotegida, como um bolo sem descansador quando não tenho isso....
        Preciso anotar em meu caderno de campo que, de alguma forma, tenho que trabalhar em mim a capacidade de deixar. Deixar amores, deixar pessoas. Sei lá! As vezes também acho que nasci com um espirito de salva-vidas. Isso porque  sempre tento olhar para dentro do outro e tentar dizer a ele: Não é possível esse menino, vc não vê quanto amor há neste peito? Libera esse passarinho menino e vem simbôra voar! Oxi! Não entendo mesmo....
     É Ana, nessa de querer salvar, quem se lascou fui você. Ninguém quer ser salvo, pelo menos não declaradamente. E aqui eu aprendi que devo cuidar da minha vida. ah! mas para mim não é o suficiente. Que menina problema!
      Ah! Mas deixa eu explicar! Se a minha vida, só ela sozinha, fosse única no mundo, para quê mais e mais individuos a minha volta? Então chego a conclusão: Preciso do outro para existir! Logo, sem o outro não poderei ir a lugar nenhum! E se, de alguma forma, poder ajudar e servir sinto que a minha missão foi então maior,  bem resolvida.
       Conclusão: Nasci não para mim. Nasci para o outro. Nasci para dar em todos os sentidos. Bem não assim, de um modo tão lascivo. ah! Também né? Por que a lascividade faz parte do risco, faz parte do experimentar. Mas voltaremos a este ponto depois.
       Minha mente é tão prolixa. Mil coisas em um segundo, mil planos em uma tarde.  Isso, de arriscar, aqui em São Paulo parece ser bastante perigoso!  Lá na Bahia, pulava do muro mais alto e caia no mar. Andava descalça na rua e ficava o dia inteiro cheirando a maresia. Isso? Esse prazer? Aqui não posso viver! Neste lugar é uma fuligem, um negócio de outro planeta. Mas São Paulo  apesar de tudo é bom. De algum modo alimento um amor-ódio por este lugar.
       Me desculpem se magoo alguém que me lê. Mas não posso mentir. Esta é a primeira vez que expresso meu sentimento ao morar neste lugar.
Agora, a madrugada corre e eu preciso me despedir. Outra coisa! Aqui também aprendi a madrugar. E não posso deixar de dormir. Preciso recuperar o fòlego para que as ideias não se percam assim em meio ao rio Tietê da minha mente! O que é isso!?
Então, é hora de abrir a minha rede e deitar os olhos sobre o o travesseiro. (num iludido desejo de sentir-me no Farol da Barra sentindo o vento me beijar!)

Um comentário:

Brenda disse...

Gostei, vc escreve super bem!

entre sem bater....

"Se o amanhã é um mistério, porque me preocupo tanto com o que ainda virá? É tão rara a calma de um olhar. Ao conversar com Deus, dobro os meus joelhos, sinto uma brisa suave. É onde encontro esta calma, este momento de alegria, que vai além de um instante, durará eternamente em mim." (Ana Catarina Braga)

Quem Vem de Lá?

Ela... Poesia concreta.. feita por mim... por nós... por quem surgir..."O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo." (Clarice Lispecto)