Calendoscopiando a Alma!
"todo poema é uma aventura planificada" (C.L.)
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quarta-feira, 30 de julho de 2014
AMAR É DESPEDIDA
Se chegas me alegro,
Se ficas me esqueço,
Amar é despedida.
Te vejo pelas ruas,
Procuras por mim.
Ficaria horas admirando-te,
A dormir calada,
Sonhar, o tempo
Devaneios de romance,
Me pergunto, intriga:
Apressada vais de si?
Nessas horas, nesses dias,
Quando não estais aqui,
Sabes, te amo mais.
Sinto falta da minha parte
Levada em seus dedos,
Nos fios da blusa...
Onde habito em ti.
ADEUS
Prostituo os meus ouvidos
Acredito nas palavras
A audição me engana
O seu abraço falso
O gosto amargo do lábio
Meu paladar disfarçado
Corrompo o meu corpo
Entre o seu proibido
Deixo que leve-me
Em sua mala
Marionete usada
O tato que seduz
Por você segura
Os olhos...
Esses não se distraem
Os olhos, espelhos da alma
Neles confio
Se machucada
Passas por mim
Meu olhos me lembram
Vais vivendo Senhora
Por não poder morrer
Amor, onde estarás?
Habitas um corpo
Sem razão de existir.
COMBATENTE DE TI
Amar é combater
Combater toda dor,
O passado frustrado,
Os dias sem teu abraço,
As noites sem teu calor.
O medo de te perder
A angústia de me ver em ti
O perigo do desejo
Quando se mistura com o querer.
Saberia sobreviver
separando o prazer do amor,
Separando o coração da razão.
Mas como combater uma vida
onde ambas as sinas se juntam?
Ainda que longe,
Sem o seu sorriso
Para as minhas manhãs
Combato os meus sentidos
E me entrego a rotina
Sozinho em minha cama,
Posso enfim dar-me um tiro
Não quero pensar...
segunda-feira, 28 de julho de 2014
Encontro
Ele é como um louco
Sempre tarde acorda
Gosta de falar do que não leu
Só para ver ela chateada
Eles se encontraram
Como quem não quer ver ninguém
Tarde se amaram
E vivem testando
O que dizem não ser amor
Ela desconhece a cor do seu passado
O que importa?
Ele é tão bizarro!
Isso é o que ela mais gosta
Entre anãs e os beijos calados...
Eles se despertam
Pernas entrelaçadas
Mais uma segunda chata!
Como sempre atrasados...
Na forma da Lei.
De dia eles se cumprimentam
A noite nem se conhecem
E insistem em dizer boa noite
Com um beijo sem gosto!
É nessa casa onde a mágica floresce
A gata anda por onde ele desconhece
O menino chora
Logo sorri
Eles não suportam
Um presente na porta da ilusão.
Refeições silenciosas
Perfeita ordem
Governanta de branco
Alvejante de alma
Ela sofre calada
Fecha a porta
Chora a sua solidão
Nessa casa de cores mórbidas
Ninguém fala nada
Em dias de chuva sorriem
E em dias de sol também
Bem vindo a monogamia
Na forma da lei!
O silêncio de amar
Não se dizem nada
Apenas seguem na dança da sensualidade
Nada que comprometa
Nada em que alguém se intrometa
Ou que possam soar as trombetas
Dos corações que amam em silêncio
Olham-se discretamente
Como se nunca andassem de mãos dadas
E as longas tardes de domingo
Vivessem isolados.
Um se encontra entre as pernas do outro
Silêncio!
É tudo sobre o não dito
E para eles nada importa
Em que porta?
Se deixam sorrisos
E se vestem as meias respostas
Dorme em paz meu bem!
O homem ilusório
Cheguei em casa
E agora como fugir?
De mim, dos monstros no armário,
Do passado velado em noites sofridas.
Mudei de bairro,
E agora como fugir?
Do senso de culpa
Da dor, da lamúria
Do esqueceram de mim.
Mudei de cidade,
Sempre quis morar no mato!
E agora como fugir?
Dos escorpiões no sapato
Dos pernilongos no quarto
Esse povo calado,
Enlouqueci?
Mudei de país,
Agora novos ares!
E agora como fugir?
Troquei tudo,
Só não posso escapar
Da pele, da carne, da mente
Do que está por vir...
Socorro! É culpa dos outros!
O que fizeram de mim?
A cidade
A gente aprende vivendo na cidade
A conviver com quem está cansado dela,
Mas não faz nada para mudar a realidade.
A gente aprende vivendo na cidade
A ouvir o filho mimado do capital,
Se lamentar da mãe doente, em estado terminal.
A gente aprende vivendo na cidade
A vegetar no mar de entorpecentes!
E a sorrir com a boca cheia de dentes.
A gente aprende a esconder o que mente
Porque fica feio dizer o que sente
Em meio a selva de pedras.
A gente aprende vivendo na cidade
Que toda relação tem um prazo de validade
E que mais cedo ou mais tarde você se torna co dependente
A gente aprende vivendo na cidade, que viver na cidade
Não é coisa de gente.
quinta-feira, 17 de julho de 2014
Um gole de mim
Bebi o copo das lentes
Acendi um cigarro e saí
Fingi que não tinha
Doeu tanto
não poder
O coração abriu-se
Sangue quente, vertigem...
A doer de não ser
A sina de ser
A vontade de não explicar
poemizar-me
Polemisar-te
Causar mar sem fim..
O sorriso dos olhos
A cor dos lábios
A grande mania
De ir de mim
De rir-se
Sabotagem
Vazio
Existe isso
Então vazio
Contemplo
O que sobra
Desafio
A boca mente
O olhar revela
As mãos
Frias
Silêncio
E eles se vão
Nunca souberam
Quem eram
Tinham medo
De ficar
Encostar a mão
Abrir o abraço
Não importa
Doeu...
segunda-feira, 14 de julho de 2014
Amantes
Ele passa e deixa seu perfume,
Ela passa e expõe suas armas.
Chão de estrume!
Constroem a vida da guerra
Comem, choram, gozam
E se jogam por qualquer janela!
Ele se esconde nas trevas
Ela se desespera...
Uma flor nasce enquanto eles esperam...
Constroem a vida em castelos de cartas
sorri, seduz e matam!
Se vão saciados por qualquer fresta...
Ele alimenta o ego,
Ela se banha de ferro!
Um coração para do outro lado da vila!
Constroem a vida e da morte fazem festa!
Cortam, roubam, invadem palácios...
Enquanto um homem se masturba na janela.
E já passam ele ou ela...
Tanto queriam que nada souberam.
Do calor da terra
Viram alimentos para os corvos.
Desses
corpos pouco aproveitados...
Ela passa e expõe suas armas.
Chão de estrume!
Constroem a vida da guerra
Comem, choram, gozam
E se jogam por qualquer janela!
Ele se esconde nas trevas
Ela se desespera...
Uma flor nasce enquanto eles esperam...
Constroem a vida em castelos de cartas
sorri, seduz e matam!
Se vão saciados por qualquer fresta...
Ele alimenta o ego,
Ela se banha de ferro!
Um coração para do outro lado da vila!
Constroem a vida e da morte fazem festa!
Cortam, roubam, invadem palácios...
Enquanto um homem se masturba na janela.
E já passam ele ou ela...
Tanto queriam que nada souberam.
Do calor da terra
Viram alimentos para os corvos.
Desses
corpos pouco aproveitados...
A PROSTITUTA SAGRADA
Meus pêsames a aqueles que trancafiaram suas esposas em casas de vidro, aos que foram às ruas praticar a arte da retórica com seus aprendizes eunucos. Que só ouvem, mas não lhes dão os prazeres da carne. Sei o quanto vocês, mortais inseguros, se sentem frustrados. Aqueles que, como os Sátiros, se julgam interlocutores de animais, meus pesares. Nem todos os animais estão dispostos a trocarem diálogos com vocês, queridos ególatras das noites de bacanais. E agora que as mulheres de bem se encontram encarceradas, e têm seus sonos velados pela mais ciumenta das deusas, duvido que Hera os permita violá-las. Mas não se preocupem, homens de todos os gêneros, tão desgostosos de não terem onde saciarem seus desejos mais sórdidos, eis que a ninfa, para alguns, ou a Afrodite , para poucos, chegou na cidade.
Ninfa serei àqueles que como bestas ejaculam apenas os falsos risos e as máscaras de suas alegrias contidas em dentes amarelos carcomidos pelos vícios. Preparei-me ninfa, Dríade ou outro tipo, para vocês gordos comilões das tardes de domingo. Os que sem nada para fazer além de jogar os restos de carne fétida aos chacais de circo. Eu estou aqui, cheguei há pouco. E por não conviver com tantos lobos ainda me encontro virgem de minhas faculdades. A singeleza da natureza e a inocência dos animais sem razão ainda se pode encontrar neste corpo branco de seios rosa e cheiro de flor. Fui preparada por Hera e Atenas para dar prazer e divertir, sem ao menos expressar qualquer dor, medo, ou repulsa a qualquer que queira submeter-me aos seus caprichos. Fui domesticada por Zeus, amedrontada por Hades e violada tantas vezes por Posseidon que já podem derramar seus líquidos viscosos e grossos sobre o meu clitóris sem que eu me faça reclamar.
O que aconteceu então, pequena ninfa bacante? Alguma coisa no caminho para a cidade cinza a fez chegar diferente do inicio, do propósito para o qual foi criada... Contarei agora a vocês o ponto de intersecção das dores do mundo em minha trajetória: No caminho para a cidade fui desviada da estrada que seguia por uma aparição sedutora! Ela me guiou para uma estrada de lama, afastada do caminho oficial. Surgiu nua, a tocar os seios e impor sobre suas coxas uma tocha acesa, o fogo da sedução. Não me disse uma só palavra apenas tocou com os seus os meus lábios. No momento me deliciei de seu corpo de mulher, algo que nunca pude apreciar, a não ser de longe, mas no momento do gozo me vi, e nunca havia me percebido, violada. Ela se foi, com sua risada de deboche sem olhar para trás, sabendo que a mancha sobre o trabalho árduo de suas rivais, Hera e Atenas, havia sido findado. E em mim? Fez-se a guerra de Tróia...
Já não era mais a ninfa inocente, já não podia disfarçar a repulsa dos mortais, animais. Mas valendo-me dos anos que aprendi a fingir o que não era fui confiante para a cidade. Passados alguns semi-deuses e mortais sedutores enfim encontrei meu destino. Batom vermelho nos lábios, coxas grossas trabalhadas pela caminhada na floresta e dentes brancos que encantavam em meio aos sorrisos sedutores me sentei em uma taverna. Pedi um whisky sem gelo e acendi um cigarro. Ali, meio menina, só os poucos, talvez Dionísio em sua malícia de anos, perceberiam que por trás de tão linda crina se escondiam as cobras que segavam aqueles que ousassem olhar de perto. Agora eu era meio ninfa, meio Afrodite e sempre que necessário uma Medusa sem piedade.
Os corações de pedra não me amedrontavam, pois por minhas habilidades de sedução no olhar era capaz de enxergá-los além das fachadas. O método? Sempre o mesmo... Resquícios da minha educação do Olimpo. A primeira vista pouco falava, parecia ser submissa e cheia de timidez... Mas ao terceiro trago eu me transformava. Ainda falando pouco, tecia os mais belos elogios que eram capazes de dobrar até mesmo os mais safos dos ególatras. E se não conhecia sobre o que se falava, sorria, tocava em minhas coxas e logo tudo era desvelado. Possuía quantos homens quisesse e estudava a forma de saciá-los. E saciava-me. No entanto, ao primeiro raio da alvorada já sumia para a minha caixa de pandora... Sem rastros. Sobre a cama apenas o perfume da noite de amor selvagem.
Os anos, meus queridos, foram passando, a beleza cada vez mais escassa, tímida e sem luz... Tudo porque o meu ego me fez achar que nunca perderia o vigor das minhas habilidades de mulher dionisíaca... Então me tranquei em minha caixa e lá, fui retirando as máscaras que machucavam... Perdi-me nos anos até que a morte me foi selada...
Passaram-se dias, semanas e era até que um Sátiro encontrou a caixa de Pandora... Como todo Sátiro, curioso e cheio de vaidades apenas abriu... e Bum! És que a ninfa ressurgiu ao seu lado... Como uma Prostituta Sagrada!
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"Se o amanhã é um mistério, porque me preocupo tanto com o que ainda virá? É tão rara a calma de um olhar. Ao conversar com Deus, dobro os meus joelhos, sinto uma brisa suave. É onde encontro esta calma, este momento de alegria, que vai além de um instante, durará eternamente em mim." (Ana Catarina Braga)
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